Antes de sabermos quais são os tratamentos para fibromialgia é importante falar um pouco sobre esta doença que vem sendo diagnosticada cada vez mais.
Fibromialgia é uma doença multifatorial cujo diagnóstico envolve uma ampla avaliação médica contemplando descartar doenças que causam sintomas iguais e agrupar um leque de sintomas de diversos sistemas do nosso corpo, que juntos configuram o diagnóstico desta síndrome chamada fibromialgia.
Existem 18 pontos mais comuns de dor que antigamente eram utilizados como critério para diagnóstico de fibromialgia, entretanto desde 2010 o diagnóstico passou a contemplar uma avaliação de pontos associados a uma escala pré-definida sobre a severidade (ou seja, intensidade) da dor. É critério diagnóstico que todo o quadro sintomático esteja presente há pelo menos 3 meses e geralmente acompanhado de fadiga, alteração do sono e humor.
É comum o(a) paciente ter inúmeros sintomas, sem sinais físicos e sem alterações nos exames laboratoriais comumente solicitados, o que torna esta doença mais complexa do ponto de vista “aceitação do diagnóstico” para o paciente e para familiares. Muitas vezes podem ser encontradas alterações em exames de imagem como uma tendinite ou osteoartrose, porém nem sempre estas doenças justificam a dor localizada em determinada região, muito menos tudo aquilo que o paciente sente.
Muitos pacientes mencionam que fazem o tratamento adequado e não têm resultados. Mas será que você está fazendo todas as orientações dadas em sua consulta? E será que na consulta foi indicado o melhor tratamento para você?
O paciente fibromiálgico necessita e merece uma atenção e dedicação aos diversos aspectos de sua vida, contemplando uma ampla avaliação dos hábitos, padrão de sono, dieta, funcionamento do intestino, humor, profissão, relacionamentos, prática de atividade física e, avaliação de todas as medicações em uso considerando seus efeitos e interações medicamentosas.
Tradicionalmente as medicações alopáticas mais utilizadas para o tratamento da fibromialgia são: Duloxetina, Pregabalina, Gabapentina, Amitriptilina, Nortriptilina, Venfalaxina, Desvenlafaxina, Escitalopram. Infelizmente é comum o uso e abuso de analgésicos e anti-inflamatórios, inclusive de analgésicos potentes que podem causar dependência.
Alguns pacientes obtém uma melhora importante do quadro de dor e incômodos com estas medicações, entretanto a maioria persiste sintomática e utilizando doses cada vez maiores .
Os melhores resultados são obtidos com uma abordagem integrativa. Logo abaixo explico pilares importantes do tratamento para fibromialgia:
- dieta anti-inflamatória: pacientes com fibromialgia se beneficiam com uma dieta com baixo teor de FODMAPS (ou dieta low fodmaps) > são carboidratos, monossacarídeos, dissacarídeos, oligossacarídeos e polióis (adoçantes artificiais) que são fermentados pelas nossas bactérias da microbiota intestinal, causando distensão das alças intestinais e consequente sintomas como barriga estufada e sintomas de má digestão. *Importante uma avaliação e orientação de um profissional para ajuste desta dieta. Dentre as recomendações, cito:
- Consumir diariamente alimentos integrais, aveia, legumes, sementes de girassol, linhaça e gergelim, azeite de oliva extra-virgem, frutas vermelhas, folhas verdes e uma quantidade adequada de proteínas (carnes magras, ovos e proteínas vegetais como lentilha).
- Cuidado com alto teor de fodmaps pois podem piorar as dores da fibromialgia. Exemplos: pêra, maçã, manga, caqui, frutas secas( como uva passa, ameixa e figo), alho, cebola, milho, couve-flor, sucos de frutas, shoyo.
- Prefira frutas como morango, framboesa, uva, melão, mamão, abacaxi, limão, kiwi.
- Castanhas: prefira nozes, castanha do Pará e amêndoas.
- evitar alimentos e bebidas inflamatórias: açúcares, adoçantes, glúten, embutidos, frituras, refrigerantes, industrializados, carnes processadas, leite de vaca e derivados.
- atividade física: como as dores estão presentes e limitam os exercícios, é importante uma orientação profissional para ajudar a encontrar o que é mais adequado para cada um. Importante que seja realizado diariamente para potencializar o efeito do tratamento, movimentar o corpo e alongar os músculos.
- Atividades que os pacientes costumam se adaptar mais até por não ter alto impacto e causar piora das dores: caminhada, natação, hidroginástica, andar de bicicleta, dança, pilates, yoga;
- Atividades que são de maior impacto, devem ser iniciadas fora de crises de dor e alguns pacientes notam maior analgesia: corrida, crossfit, luta e outras similares.
- regular o intestino: é comum encontrarmos pacientes com constipação intestinal e síndrome do intestino irritável. Saiba que o “seu intestino é o seu segundo cérebro”. Um intestino saudável absorve bem os nutrientes necessários para uma boa produção de serotonina. Este é um neurotransmissor que nos ajuda a dormir melhor, sentir-se mais tranquilo e, consequentemente sentir menos dor. Por sinal, é um dos neurotransmissores que tem seus níveis aumentados com a maior parte das medicações como Duloxetina e outras.
- beber água: considere importante ingerir cerca de 35ml/kg/dia. Isto que dizer que uma pessoa com 50kg deve ingerir ao menos 35ml multiplicado por 50kg = 1750ml por dia. Já uma pessoa que pesa 90kg, deve ingerir 35 multiplicado por 90 é igual a 3150ml por dia. Acho importante frisar esta observação porque a água faz parte de 60% do nosso corpo. Se bebemos menos do que nossa necessidade, vários processos do nosso funcionamento podem ficar prejudicados, inclusive a digestão, hidratação da pele, inchaços, dores de cabeça e tonturas.
- psicoterapia: todos os pacientes com fibromialgia têm alguma alteração de humor ou episódios de ansiedade, depressão ou síndrome do pânico. Assim como é comum o “círculo vicioso” de dor > sofrimento > fadiga> alteração do humor > piora da dor .
- É necessário um profissional habilitado e empático para entender suas dores físicas e emocionais e ajudá-lo(a) a aceitar, perdoar, acolher, esquecer, aprender a se disciplinar, aprender a si amar e trabalhar todas as outras emoções, crenças, dificuldades que cada um possui.
- avaliação metabólica e nutricional:
- avaliar se há uma boa ingestão de proteínas, carboidratos e gorduras;
- checar vitaminas essenciais como vitamina B12, vitamina D, ferro, ácido fólico;
- verificar se há alguma alteração da tireóide; disfunção do eixo HPA; resistência insulínica
- tratamento medicamentoso > além dos tradicionalmente prescritos e já citados acima, podemos utilizar de outros recursos como:
- Fitoterápicos: Erva de São João, Melissa, Sálvia, Valeriana, Mulungu, Ashuaganda etc;
- suplementar com anti-inflamatórios naturais como ômega3, curcumina, berberine;
- suplementos que também podem contribuir para melhora das dores, sono, fadiga e relaxamento muscular > magnésio, coenzima Q10, resveratrol , d-ribose, glutamina, creatina, melatonina, L-teanina., ácido alfa-lipóico.
- tratamento com plantas medicinais ricas em fitoquímicos, flavonoides e terpenos: não existe dúvida de que alguns óleos medicinais trazem melhoria para a qualidade de vida dos fibromialgicos. Já existem vários trabalhos comprovando sua eficácia com grande redução das dores, proporcionando impacto positivo na qualidade de vida, melhora no bem-estar geral, aumento da disposição e habilidade para trabalhar e realizar as atividades da vida diária.
Nenhum paciente com fibromialgia terá melhora de sua doença se focar apenas na medicação. Procure um médico com olhar abrangente e integrativo para todos os aspectos citados acima e você terá resultados que lhe trarão maiores benefícios para a sua vida.
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